10 de abr. de 2007

Pixinguinha o mestre revisitado

Entre 1928 e 1929, a gravadora Victor Talking Machine, recém-estabelecida no Brasil, não admitia lançar discos sem orquestra. Estava numa sinuca: os maestros americanos só orquestravam jazz, os músicos eruditos brasileiros não sabiam fazer arranjos para músicas de carnaval e a turma das bandas só arranjava marchas e dobrados. Mas havia um gênio chamado Alfredo da Rocha Vianna dando sopa no mercado.
O contrato da gravadora com o primeiro maestro arranjador genuinamente brasileiro é uma das raridades da exposição Pixinguinha, que começa hoje e vai até 1º de julho no Instituto Moreira Salles, na Gávea, comemorando 110 anos de nascimento do artista. Desconhecido até pela família, o documento foi obtido pelo pesquisador de Música Popular Brasileira José Ramos Tinhorão, cujo acervo foi comprado pelo IMS em 2001.
- A genialidade do Pixinguinha foi escrever os arranjos para orquestra das músicas de carnaval lançadas pela Victor e até para versões de fox gravadas por cantores como Francisco Alves - afirma Tinhorão. - Mesmo sendo versões, eles não podiam importar o arranjo americano, porque o público brasileiro não aceitaria.
O contrato, que estava numa pilha de papéis prestes a ir para o lixo da RCA Victor há cerca de 20 anos, não é a única relíquia da mostra. Estará exposta - junto a partituras, fotos e objetos como caneta-tinteiro e palheta - a flauta, que Pixinguinha dignificou até perder a embocadura e adotar o sax.
- No final da década de 40, a idade e o excesso de bebida impossibilitaram-no de tocar flauta - conta o cantor Marcelo Vianna, neto do compositor. - Então ele pegou o sax e, com seu talento, criou o contraponto com a flauta de Benedito Lacerda.
Apesar de louvar o trabalho do IMS - em cujo site é possível ouvir cerca de 500 composições do avô - Marcelo lamenta o descaso geral em relação à data.
- Ele foi o maior músico popular brasileiro. As pessoas cobram e precisam ter acesso à obra dele - protesta o neto. - Acho curioso não haver nenhum movimento maior, nada organizado pelos governos.
Marcelo está empenhado atualmente na orquestração de partituras para seu projeto de lançar 10 CDs com sambas, choros, orquestrações sinfônicas e músicas para cinema compostas por Pixinguinha (1897-1973). Ele lembra que ainda há 100 músicas inéditas do avô, com quem conviveu apenas quatro anos.
- Meu pai (Alfredinho, morto há três anos), foi o único filho dele e organizou todo o acervo da família - conta Marcelo, que prepara seu segundo CD e incluiu cinco composições do avô no primeiro, Teu nome, Pixinguinha, de 2002. - O Paulo César Pinheiro letrou, mas não dá para forçar a barra, nem tudo na obra dele pode ser letrado.
A partir do dia 23, o IMS disponibiliza em seu site mais uma parte significativa do acervo do autor de Carinhoso. No dia seguinte, exibe para convidados o curta Pixinguinha e a velha guarda do samba, de Thomas Farkas e Ricardo Dias, de 1954.
- O filme não tem som original, mas as músicas foram identificadas e sonorizadas - conta o coordenador de música do IMS, José Luiz Herencia. - Ele toca com Almirante, Donga e João da Baiana na inauguração do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Marcelo Migliaccio
fonte: http://jbonline.terra.com.br

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