8 de mar. de 2007

Tudo começou por causa daquela maldita camisa abóbora. Já havia tempo que comecei a reparar nas pessoas que passavam por mim pelas ruas vestidas de abóbora. Sentia uma enorme atração por essa cor. O que antes me parecia uma extravagância, agora seduzia o meu olhar. Quando finalmente a encontrei ela estava vestida em um desses manequins assexuados, com corpos perfeitos, esculpidos com a máxima precisão, só para lembrar que ele é apenas um boneco com um corpo perfeito.
Quando entrei na loja não pude tirar os olhos dessa camisa abóbora. Tinha um corte simples, como qualquer camisa, mas para ela era especial. Ela era abóbora.
Após vestir na cabine da loja não pude conter a sensação de prazer ao olhar minha imagem no espelho refletindo meu corpo vestido na tal camisa abóbora. Senti-me diferente, parecia que meu corpo estava mais definido, meu tronco se tornara volptuoso e meus braços mais grossos. Sentia-me o manequim da vitrine.
Após comprar essa camisa tudo na minha vida mudou. Ainda me lembro de como eu fazia questão de me sentar exatamente no meio de sala de aula, no segundo grau; sabia que se eu sentasse nas carteiras da frente me chamariam de nerd, se sentasse nas carteiras atrás de bagunceiro. Então sentava no meio, onde não me chamavam de nada.
Como não sabia desenhar, tocar violão ou falar sobre ocultismo, nunca tive muita sorte com seres femininos. Mas agora, depois desses anos me sentia diferente.
Comecei a usar gel no cabelo, não saia da academia, vibrava ao som de qualquer DJ saído de qualquer gueto de Londres, adquiri um ar blasé, até contratei um hair-stylist. Passei a me amarrar em comidinhas fusian, comprar roupas na Daslu Homem, na Fause Haten, procurar os melhores warm ups da cidade, de clima low profile, até comprei um óculos vintage. No final de tudo percebi que virei um metrosexual. Quer um conselho: Não use camisa abóbora.

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