12 de jun. de 2007

AM$R OU AM?R?
Amor... Sentimento eterno enquanto dura, como dizia Vinícius de Moraes, a fim de caracterizar a ausência de permanência, a finitude dessa experiência humana ímpar; por outro lado, amar indica uma eterna busca pela nossa outra metade, como dizia o poeta Aristófanes, na obra "O Banquete", de Platão, para determinar a incessante procura desse outro "eu" que nós não sabemos onde está nem quem seja. Por conseguinte, há muitas correntes de pensamento que discordam, acreditando ser o amor ora duradouro, como nos dizem os poetas e os apaixonados, ora tão efêmero, como a própria existência humana.
Na Idade Média, os escolásticos classificaram o amor como pecado; os pensadores modernos exaltaram-no, em virtude dos novos valores em ascensão; durante a Revolução Industrial, o matrimônio, meio para se ter prole e mão-de-obra barata, transforma o amor em algo entediante. Hoje, não tão diferente, ele é compreendido como um jurássico sentimento: reificado, transformou-se numa mercadoria, mero objeto descartável.
Amar e ser amado corresponde a uma busca intermitente que, de tão complexa, a primeira pessoa que encontramos já julgamos ser a nossa cara metade, o ser andrógino. Condenados, como escreveu Aristófanes, sentimo-nos separados, punidos por nossos ultrajes aos deuses olímpicos, embora o tempo todo desejássemos, nem que fosse por um curto período, o reencontro.
Atualmente, o amor foi banalizado, deixou de ser gratuidade para ser uma troca mercantil. Semelhante a um objeto, ele se transformou em um sentimento cobrado, que pode, estranhamente, ser comprado e, por conseguinte, substituído, como indica a rotatividade das relações amorosas. Assim, o amor contemporâneo, como os produtos perecíveis nas prateleiras dos supermercados, tem data de validade.
Ora, então, devemos amar ou não amar?
Amar e não ser amado é, indubitavelmente, um mal menor do que não tentar amar. Todavia, sendo gratuidade, melhor quem ama, ainda que não correspondido, do que quem, por insegurança, não procura amar. Porquanto, de acordo com o pensamento filosófico de Heráclito, tudo está em constante movimento e transformação; por conseguinte, quem não ama poderá ser amado, quem não é amado, poderá tentar amar, quem não é correspondido, poderá sê-lo, com todos os riscos que as tentativas implicam. Ademais, oferecer o nosso amor para quem não quer ser amado apenas potencializa a capacidade humana de arriscar-se. Ainda que não dê certo, o mais importante é que, como afirmaria Martin Buber, nós nos abrimos para o outro, sem temê-lo. Sendo assim, uma pessoa pode dar e exigir o amor ou dar e esperar pacientemente a reciprocidade; exigido, cobrado, trocado, de forma subjacente se crê que ele é comercializável, portanto, com o tempo poderá ser substituído; a respeito daquele que dá e aguarda pacientemente a consumação recíproca dos amores, revela uma identidade eminentemente humana, caracterizada pelo espírito do risco. Com efeito, melhor do que não tentar, sob o medo de se arrepender, é tentar e enfrentar todas as conseqüências, todas as renúncias requeridas pela vida a dois, haja vista que a beleza da existência humana reside aí: em um universo cheio de problemas, de incertezas e medos, o verdadeiro ser humano revela, por própria escolha, que não tem medo de tentar ser feliz.
Benedito Luciano França

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